sábado, 15 de janeiro de 2011

Música: arte ou entretenimento?

“Milhares de pessoas cultivam a música; poucas porém têm a revelação dessa grande arte.” 
Ludwig Van Beethoven

Ao longo de uma curta carreira musical, questionei-me por diversas vezes sobre o lugar que a música ocupa na sociedade. Não sei hoje se tenho resposta para tal questionamento, mas considero ter falcançado camadas mais profundas de reflexão com o passar do tempo. Não é pretensão minha impor aqui uma verdade, desejo apenas expor um ponto de vista e compartilhar com vocês leitores.

Sempre ouvi falar que a música é uma forma de expressão e que representa a cultura de um determinado povo. Sobre o nosso país, o Brasil, nunca duvidei de sua enorme riqueza e pluralidade cultural, embora tenha notado, também, ao longo das últimas décadas, uma decadência crescente neste âmbito.

Para que fique claro o ponto em que pretendo chegar - antes de concentrarmos nossa atenção nas terras tupiniquins - faz-se necessário uma breve contextualização histórica. De fato não me aprofundarei na história como um todo, até porque não é esse o foco e nem tenho domínio sobre tanto, mas é válido que resgatemos as passagens de maior importância e representatividade fixando como ponto de partida as músicas folclóricas e tribais. Estas apontam para o que seria a origem dos diversos seguimentos musicais em todas as culturas.

Wolfgang Amadeus Mozart
Adiantando a história para o fim da Idade Moderna e início da Idade Contemporânea, encontraremos momentos de produção musical muito singular. Nos períodos Renascentista (1400 – 1600), Barroco (1600 – 1750), Clássico (1730 – 1820) e Romântico (1815 – 1910), melodias viscerais executadas sob uma técnica apuradíssima fizeram de Bach, Vivaldi, Mozart e Beethoven gênios incontestáveis e eternos. Suas obras tornaram a música erudita a mais pura tradução dos incontáveis e impronunciáveis sentimentos humanos, influenciando outras gerações de gênios como Tchaikovsky, Brahms, Chopin e Debussy

Frank Sinatra
Na transição entre os séculos XIX e XX, gêneros musicais como o blues e o jazz surgiram nos Estados Unidos revelando ao mundo nomes como Louis Armstrong, Frank Sinatra, Nat King Cole e Tony Bennett, enquanto, no Brasil, no ano de 1922, ocorria no Teatro Municipal de São Paulo a Semana de Arte Moderna. O evento, que foi realizado com intuito de renovar o cenário artístico e cultural da cidade, teve como um dos destaques mais notáveis o compositor e maestro brasileiro Heitor Villa-Lobos. Criador de obras que enaltecem o espírito nacionalista, Villa-Lobos utilizou diversos elementos de canções folclóricas, populares e indígenas.

Elvis Presley
A partir daqui, devido ao episódio sangrento da Segunda Guerra Mundial, avançarei nossa viagem temporal para o final dos anos 40 e inicio dos anos 50. Ao aterrisarmos justamente no momento em que surge o rock and roll é natural que uma das primeiras lembranças a percorrer nossas mentes seja o Rei Elvis Presley. Com raízes em gêneros musicais afro-americanos, como o blues, por exemplo, o rock e o próprio Elvis influenciaram e modificaram o estilo de vida e as atitudes da época, tornando-se um dos capítulos mais importantes da história da música.  

Tom Jobim
Enquanto o rock ganhava o mundo, um jovem brasileiro chamado Tom Jobim trazia enorme contribuição para a riqueza cultural deste país. Influenciado por nomes como Debussy, Villa-Lobos e o baiano Dorival Caymmi, Jobim, um dos criadores da Bossa Nova, tornou-se um dos maiores nomes da nossa música e, em parceria com outros grandes como João Gilberto, Vinícius de Moraes e Chico Buarque, construiu uma obra que é, até hoje, sinônimo de qualidade e sofisticação.

Na década de 60, muitos acontecimentos musicais tiveram destaque. A Motown - gravadora de discos americana - foi a mais importante lançadora de artistas negros em todo o mundo. Com a influência do gospel e do rhythm and blues, criou um estilo característico que ficou conhecido como O Som da Motown, na verdade uma espécie soul. Dentre os maiores destaques encontramos Diana Ross, The Jackson Five (antiga banda de Michael Jackson e seus irmãos), The Temptations, The Commodores (antiga banda de Lionel Richie), Marvin Gaye e Stevie Wonder.

Ray Charles
Nesse contexto da música negra, não podemos deixar de lembrar dois dos seus maiores nomes; Ray Charles e James Brown. Em sua obra, Ray reuniu elementos da música gospel e do R&B e, embora nunca tenha se prendido a gênero musical específico, manteve sempre a ligação com o soul. James Brown chegou a influenciar até mesmo ritmos da música popular africana e forneceu o modelo para o Go-Go, um subgênero do funk. 
The Beatles - "Sgt. Peppers"

A década de 60 também é muito famosa pelo surgimento de certa banda de rock formada por quatro garotos ingleses. Sim, eu estou falando dos Beatles! Os britânicos não demoraram a conquistar o mundo com sua música revolucionária, implantando ideais progressistas de revolução social e cultural. O álbum “Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band” é considerado um marco na história da música com influências sobre todo o ocidente. 

Roberto Carlos
No Brasil, o rock fazia escola. Os pioneiros, influenciados por artistas como Elvis Presley e os Beatles, formaram o movimento conhecido como Jovem Guarda.  Enquanto uma variação nacional do rock, este movimento tinha letras descontraídas e românticas como principais características.  Roberto Carlos, conhecido como “O Rei”, foi um dos principais representantes do movimento. Em parceria com o também renomado Erasmo Carlos, este ícone da música brasileira - que recentemente completou 50 anos de carreira - trouxe, em suas canções, muita simplicidade e romantismo que lhe renderam, como resultado, impressionante popularidade.

E como falar do Rei sem falar da Rainha? Rita Lee, primeiro como integrante da banda Os Mutantes e depois em carreira individual, escreveu seu nome nas páginas do rock nacional emplacando inúmeros sucessos e influenciando várias gerações ao longo dos seus 45 anos de carreira. Os Mutantes ainda viriam a integrar o Tropicalismo, movimento que surgiu no final da década de 60, momento em que a Ditadura Militar se instaurava no Brasil.

Caetano Veloso
O Tropicalismo trouxe inovações à cultura brasileira sem abandonar as manifestações tradicionais. Seus maiores objetivos eram de cunho comportamental e ganhou força em boa parte da sociedade. Outros representantes deste movimento foram Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Tom Zé.

Chegamos a um dos pontos de maior importância neste texto. Enquanto a Era Disco atingia o seu auge de popularidade na década de 70 com artistas como Bee Gees, Donna Summer e ABBA arrebentando nas discotecas, o Brasil passava por um episódio triste e violento. Além de toda a violência física abundante na época do regime militar, a violência cultural também foi avassaladora.

A ditadura não se restringia apenas à política. Censurou os órgãos de imprensa, manifestações públicas, peças teatrais, filmes, livros e músicas. As bibliotecas, livrarias e acervos particulares também passaram por revistas, afinal, nada que contivesse conteúdo comunista, socialista ou agrário-reformista era liberado. Até mesmo as universidades ficaram sob a ocupação dos militares que, além de vetarem livros, expulsaram alunos e “aposentaram” professores copiosamente.

Raul Seixas
Na música, artistas como Raul Seixas, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Geraldo Vandré e Chico Buarque manifestaram publicamente posicionamento contrário à ditadura.
Chico Buarque
Gil e Caetano foram presos no Rio de Janeiro no dia 22 de dezembro de 1968 sob a alegação de "tentativa da quebra do direito e da ordem institucional", com mensagens "objetivas e subjetivas à população". Ambos foram exilados do país, enquanto Chico se auto exilou na Itália em 1969.

Não é difícil constatar que uma das intenções da censura militar era privar o povo do acesso à cultura e outras diversas formas de informação. Com que finalidade? Ora, a resposta é tão simples quanto abominável! A finalidade do golpe militar era a dominação. Dominação da população através da força bruta e impedimento intelectual. Durante os anos em que se passaram o regime, a cultura nacional foi cruelmente devastada. Qualquer obra que pudesse despertar conhecimento era imediatamente retirada de circulação. Não era interessante ter uma população se alimentando de informações e desenvolvendo senso crítico. O ideal era criar e manter ignorância e alienação.  Sustentar o poder sobre o povo passando-lhes apenas o que fosse conveniente e que não ameaçasse a ordem. 
 
Ditadura Militar (1964-1985)
Foi nesse contexto que a música brasileira se submeteu de vez à industrialização. Já que as obras de maior valor cultural eram censuradas, restou ao mercado da música se render por completo ao entretenimento. Empobrecida, a música que chegava às casas do povo brasileiro através da televisão ou rádio não era mais arte, era o produto de um negócio comercial. Os empresários do ramo - que não quiseram ter prejuízos com a perda artística sofrida - passaram a investir em um produto que pudesse ser comercializado livremente. A nova fórmula de sucesso e lucros passou a ser as baladas com letras e melodias de fácil assimilação em que não se faziam necessárias quaisquer reflexões mais profundas.  É claro que não deixaram de surgir artistas de muita qualidade, inclusive por este mercado, mas o que se viu, na maior parte do tempo, foi a massificação de uma mesma estrutura musical limitadora que já não mais servia ao povo como forma de mediação e individuação.

Friedrich Hegel
Não quero aqui ser radical e entrar na mesma limitação que critico, afinal, propor que a música tenha sempre cunho educativo também é submetê-la a um limite. Entretanto, segundo Friedrich Hegel (1770-1831) - filósofo alemão, idealista e grande pensador das relações entre indivíduo e cultura -, uma das maneiras do indivíduo alcançar a sua subjetividade diante da relação com a economia social é a mediação feita através da arte, religião ou ciência.  Uma música que tenha apenas a função de produto comercial terá chances muito menores de mediar essa relação. Não estou querendo dizer que o entretenimento não serve como mediação. - Sim, é totalmente aceitável que nas horas de lazer o homem queira ou não se relacionar com sua individualidade. - O que está em questão é a massificação alienatória do entretenimento, que, além de limitar a arte com a sua estrutura padronizada, impede que os indivíduos tenham conhecimento do seu âmago. Qualquer indivíduo que se relacione com a música apenas como entretenimento estará reduzindo consideravelmente as suas possibilidades de individuação, afastando-se de si mesmo e tornando-se vulnerável à dominação autoritária imposta por aqueles que apreenderam a arte e fizeram dela uma propriedade particular.

Em resumo, penso não ser equívoco afirmar que a música é, enquanto arte, infinita e mediadora da relação entre o homem e a cultura. O entretenimento, por sua vez, pode ser a manifestação de algum tipo de arte, mas não é, obrigatoriamente, arte em sua essência. Na natureza, a capacidade única do ser humano de produzir e dar sentido à arte implica, consequentemente, a meu ver, no fato de que o infinito também está dentro de nós e, para explorar tamanha imensidão residente em nosso frágil corpo, a própria relação que mantemos com a arte é uma das mais importantes ferramentas, pois, se existe, de fato, um infinito em cada um de nós, a troca entre aqueles que produzem e aqueles que apenas percebem a arte será uma valiosa construção de conhecimento, preenchendo o que antes era espaço vazio. 
 
Com tais premissas estabelecidas, espero que passemos a refletir sobre o estabelecimento da industrialização musical brasileira e o seu processo histórico com outro olhar a partir de agora. A abordagem do catastrófico momento da ditadura militar já deve ter despertado no leitor a compreensão do rumo que a música popular veio a tomar. Com a cultura em flagelos, não demorou muito para que o padrão das rádios, tevês e outros meios de comunicação fosse o entretenimento. Por parte das gravadoras esta era a “oferta” e, por parte do povo, logo passou a ser a “procura”.
Erich Fromm
Crianças e jovens desta geração cresceram sob a influência desse período reproduzindo aquilo que lhes era ofertado. Com acesso restrito às obras de maior poder mediador e individuação não estimulada foi praticamente inevitável conter o avanço dessa concepção de música como um produto de entretenimento e a mesma criou raízes. Foi instaurada, segundo a teoria hegeliana, uma pseudocultura, que, com o passar dos anos, consolidou-se. Esse movimento circular de oferta e procura pode ser entendido com mais clareza à luz do conceito de caráter social. Para Erich Fromm (1900-1980), psicanalista, filósofo e sociólogo alemão, o caráter social é a estrutura do pensamento e comportamento comuns à sociedade. Embora não sejam descartadas as particularidades do indivíduo, para o autor, de forma geral, a identidade e a individualidade são “anuladas” garantindo um ritmo social constante. Esta teoria se assemelha com alguns pensamentos hegelianos, para ambos, o fato dos indivíduos manterem constante o ritmo da sociedade quando abnegam a sua individualidade resulta num sistema que se movimenta sozinho, tornando possível a construção e a manutenção da alienação e da ideologia.

Sérgio Reis, Almir Sater e Renato Teixeira
Da minha parte, não seria justo fazer aqui uma generalização. Apesar de uma grande parcela da sociedade se movimentar de forma parecida, foram muitos os exemplos de “rebeldes” a nos brindar com genialidade intelectual e musical.  Em um patamar romântico e regionalista, no final da década de 70 destaca-se o surgimento de artistas como Zé Ramalho, Alceu Valença, Djavan e Almir Sater.
Djavan
Influênciados por nomes como Beatles, Roberto Carlos, Raul Seixas, Gilberto Gil, Sérgio Reis e Renato Teixeira e ritmos que vão do maracatu ao blues, estes artístas contribuíram de forma especial para o enriquecimento da cultura popular brasileira.

Michael Jackson
Mundo a fora, já na década de 80, enquanto o astro internacional Michael Jackson - considerado como “O Rei do POP”- surpreendia a todos com “Thriller” (álbum, música e videoclipe), no Brasil, ainda sob o regime militar, uma geração tão talentosa quanto polêmica media forças com a caretice da época. Bandas como Barão Vermelho, Legião Urbana, Titãs e Os Paralamas do Sucesso abordavam, sob uma perspectiva crítica, temas abrangentes à política, relações sociais, sexualidade, drogas e até mesmo à religião.

Marisa Monte e Carlinhos Brown

Eis que chegamos à última década do século XX e agora as memórias são mais nítidas. É com orgulho que afirmo ter visto o surgimento de diversos artistas que, de certa forma, remaram contra a maré. Reconheço que o mercado da música já estava consolidado, mas isso não veio a impedir ou limitar o romantismo, o lirismo e nem mesmo o flerte com a filosofia por parte de alguns. Paulinho Moska, Lenine, Jorge Vercillo, Marisa Monte, Carlinhos Brown e Adriana Calcanhotto são apenas alguns exemplos de artistas que mesmo dentro de um mercado limitador não sucumbiram. Destacaram-se pelo talento, autenticidade e comprometimento com a arte.

Acredito que alguns de vocês, assim como eu, tenham tentado entender o rumo que a música tomou e vem tomando ao longo do tempo. Parece um tanto difícil compreender que tantos gênios passaram por nós e o resultado disto seja um percurso em sentido contrário em que a arte e os seres humanos estão sendo deixados de lado para dar espaço a uma pseudoarte feita com o intuito único de comércio, coisificando o homem e as suas relações. Essa pseudoarte a qual estou me referindo – sem citar nomes por questões éticas -, em muitos casos, influencia e incentiva o consumo do álcool, traições conjugais, violência e a banalização do sexo, colocando, geralmente, a mulher em posição inferior e de objeto. Se for esse tipo de música que está representando a nossa cultura, realmente chegou a hora de parar e pensar; Essa é a cultura que queremos para nós? Ou pior, será esse o espelho da nossa cultura?

É claro que resumir a música às suas letras também não é suficiente, afinal, descartar todo o material instrumental maravilhoso que foi e que vem sendo produzido ao longo da história me parece um tanto injusto. Penso que se nós considerarmos a capacidade da melodia em transmitir sentimentos e sensações, concluiremos que ela, por si própria, tem significado, e não somente um único significado, mas infinitos significados que são, ao mesmo tempo, diferentes para diferentes pessoas. Estabelecendo, nas devidas proporções, essas mesmas considerações para as letras, chegaremos à questão central do problema, ou seja, tanto as letras quanto as melodias transbordam significações e são justamente essas significações e o sentido que damos a elas que permitem, ou não, a mediação com o nosso íntimo e a descoberta da nossa individualidade. O que tem me entristecido é o mercado da música industrial estar massificando justamente um tipo de produto desprovido de significações literárias e melódicas. As letras dizem sempre as mesmas coisas, as melodias adquiriram estrutura padronizada e o exercício da reflexão não se faz mais necessário. Enquanto os ricos empresários lucram com a venda dos seus produtos vazios, nossas rádios e nossas vidas estão lotadas de músicas pobres!

Embora algumas das passagens e movimentos musicais mais marcantes e as suas ligações diretas com a cultura tenham sido redigidas aqui, não pretendo determinar que os artistas e ritmos citados sejam os únicos merecedores de aclamação. A infinidade da música é evidente e seria uma iniquidade absurda eleger e classificar ritmos ou estilos como melhores ou piores. Toda essa diversidade faz parte da riqueza de uma arte que deve ser preservada, onde preservar não significa deixar de criar, muito pelo contrário, toda arte está diretamente ligada ao constante exercício da criatividade e é justamente no cultivo da criação que reside o verdadeiro significado de preservação.

No fim das contas, a música continuará sempre existindo e acompanhando as mudanças do mundo. A sua extinção não me amedronta, no entanto, confesso que pensar nos fatores que podem provocar essas mudanças me deixa um tanto preocupado. Apesar do monopólio das grandes gravadoras estar ameaçado pela democratização virtual, as concepções antiquadas que ligam a música ao poder, fama e dinheiro continuarão existindo sabe-se lá até quando, conservando, em muita gente, ideias genuinamente comerciais, onde o principal desígnio é o lucro material. Particularmente, prefiro me ater às esperanças de que as mudanças acontecerão por influência dos corações indomáveis que jamais abandonarão a luta em defesa das belas melodias, das poesias sublimes, do romantismo incurável, das crônicas intensas e das críticas ácidas.

Enquanto partidário da luta em nome da arte, sigo constantemente em busca do lugar que a música ocupa dentro de mim. Exercitar tal atividade de reflexão me leva ao entendimento de que tanto a música quanto a própria arte só ocupará, em cada um de nós, o lugar que permitirmos. Não adianta tentar impor o que deve - ou não deve - ser ouvido, afinal, agir desta forma seria um regresso à ditadura e uma violência ao direito de liberdade que conquistamos com a instauração da democracia. Paz, alegria, amor, tristeza, rebeldia... Arte? Entretenimento? Que lugar a música ocupa em sua vida? Só você pode decidir!

Diariamente, percebo o quanto ainda me resta por saber e talvez seja realmente esta a grande lição que a música trouxe para mim ao longo da nossa relação. A imensa necessidade que sinto de ouvir e conhecer cada vez mais age sobre mim como uma força a me arrastar pelo desconhecido, rumando sempre na direção de novos sentidos para essa grande arte que é, misteriosamente, ao mesmo tempo, tão divina e tão humana.

22 comentários:

  1. Uau, parabéns Klaus pela imensa pesquisa e pelo grande trabalho que teve. Tô impressionado com a sua dedicação e o refinamento do blog. Mas não sei se é o espaço ou momento pra fazer algumas considerações. Depois converso contigo. Poréeeem (hehehehe) eu discordo com várias considerações musicais feitas por você. Fica claro que apesar de grandes amigos e amantes da música no mundo, temos opiniões em partes diferentes.
    Eu entendo que existe um declínio musical no século atual, nas duas últimas décadas a decadência foi incrível e não só na música do nosso país multiétnico. Mas não só aqui as coisas andam ruins e há muito tempo tudo isso vem caindo. É verdade que existem grandes gênios na música erudita, mas esses gênios só foram reconhecidos depois que morreram (em alguns casos). Acho limitado pensar é a sociedade atual que está falida nas artes, na verdade mesmo as artes não são tão valorizadas desde que Jesus jogava bola e não podemos culpar o entretenimento ou a massificação. Acho até que se muito músico existe por aí é por conta da massificação.
    A música "pobre" existe pra divertir o povo mesmo antes do É o Tchan, basta procurar algumas letras trovadoras e analisar. O povo gosta do circo, o povo quer algo que lhes traga alegria em pensar a vida. Os grandes eruditos tocavam pra a elite e sinceramente eu não acho que a elite seja um reflexo bom da sociedade no Brasil e ainda menos na Europa de antigamente. Se hoje o povo não escuta com bons ouvidos um Tom Jobim é pq Jobim virou sinônimo de Elite, sendo assim a música dele não pode ser desperdiçada com pobre. É bem parecido com a educação né? Pra que dar acesso a gente que não vai saber o que fazer com ela?! E eu sei que nós dois sabemos que isso é errado! O entretenimento pesado sempre existiu, o povo ouvia música e ia aos teatros por que era privilégio de poucos. Os negros americanos não tinham direito de cantar no mesmo local que brancos, foram cantar no gueto a música que seu povo queria escutar e era aquilo que ele vivia, e foi no gueto que ela ganhou fama e saiu pro mundo: Soul, Blues, Jazz, etc. Mas lá eles não deixaram de escutar e aqui no Brasil muito pobre teve acesso, tanto que nossos pais são a prova dessa geração causada pelo entretenimento e alta divulgação. Assim que a música de Ray (meu tio, hehhehe) foi notada como boa a elite brasileira tomou conta e sumiu das rádios.

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  2. Parte 2 - A insistência =D

    Eu tive acesso pq meus pais que não eram ricos mas compraram discos me passaram essa preciosidade ainda criança.
    Por que eu tô falando isso tudo? Notoriamente eu percebi que você atribui ao povão a queda da música. Mas a culpa não é dele e sim de quem tem dinheiro. Quando a música é boa e de bom gosto, a elite do nosso país faz questão de tomar o gênero pra si. Se o povo não tem direito de escutar, ele cria! E daí que surgem vários clássicos que eu não gostaria de ver minha filha dançando. Outra coisa que me faz olhar torto pra elite musical que você buscou é que você não comentou sobre os sambistas que são muito valorizados pela elite e pelo povo da época de nossos pais. Da década de 20 pra cá teve muita gente boa, da música do povão e entretenimento que não foi lembrada. Pegou por um lado superficial da nossa música. Pixinguinha, Jamelão, Nara Leão e Elis Regina. Isso sem falar dos grandes caras que passaram por festivais da Record que são clássicos e ganharam tanto o público pobre quanto rico (pra foder meu preconceito). Não vejo tanto como alienação o entretenimento, a indústria da música faz algo que os psicólogos sabem fazer e são pagos pra fazer (pesquisa de campo e mercado) pra saber o que vende. Eles botam pra tocar o que o povo gosta e dizer que o povo é alienado é sacanagem! Não é por que os gostos e opiniões diferem que devemos pensar os indivíduos como produtos rotuladores. Acho até que Roberto Carlos é mais alienante que muito pagode que existe aí. Tem coisa pior que ligar a Tv no fim do ano e ver esse cara vestido de azul e branco todo dezembro há mais 10 anos? No entanto ele é bem citado como um dos "gênios" (adjetivo meu)que impulsionaram a nossa cultura musical. Pra a música ser um instrumento de construção, como você diz, certos conceitos e paradigmas devem ser quebrados. Inclusive os meus! Toda a arte é uma forma de entreter, e arte é sim uma forma de ganhar a vida e pra isso é preciso vender e alcançar mais pessoas possíveis. Entretanto concordo que muita coisa poderia ser melhor elaborada, mas não devemos calar a expressão de alguem que quer tentar ou viver algo que lhe parece conveniente. A arte é expressão, mas nem toda arte precisa ser "fina, elitizada, categórica", mesmo que seja feia (pra alguém é arte). Quem bem sabe é o velho Van Gogh!
    Bom, vou me limitar até mesmo pra não parecer que tô querendo fazer algo chato. Adorei a idéia, escreva mais, se aprofunde mais! Música (arte) é que nem sexo, não deve ser só passada por cima, tem que ir fundo!!

    Abraços

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  3. Obrigado, querido! Realmente existe muita gente boa que ficou de fora, inclusive esses que você citou. Logo no começo tratei de deixar claro que mencionar tudo seria impossível e, no fim, mais uma vez, afirmei que os citados aqui não eram os únicos. O que tento trazer é justamente a elite dominadora restringindo o acesso da música, mesmo quando ela é produzida pela classe dominada, com a instauração da ditadura, gravadoras e coisas do tipo...
    Afirmo também que o problema não está na diversão e prazer. As festas populares, danças e o próprio circo representam a manifestação da cultura, a alegria faz parte da subjetividade humana sem dúvida alguma. Enfim, mesmo que muitos seguimentos musicais tenham surgido com a separação das classes, penso numa música livre se sobrepondo à essa limitação. Fico muito contente com a sua participação enriquecendo o nosso debate! Obrigado!

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  4. Muito bom texto, meu velho. Parabéns. Boa escrita, bom detalhamento histórico,boa crítica.

    Neto.

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  5. pelo menos na nossa cultura, música rima com entretenimento e isso fica até visível no interesse lógico mercadológico que empurra guela abaixo da sociedade uma forma de diversão feita para dançar, para ralar, para beber cair e levantar. eu conheço alguns et's que põem o cd para tocar e param para escutar, críticar, avaliar e sentir a obra, mas esses são minoria.
    parabéns man mto massa!!!

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  6. Valeu Neto e Léo! Obrigado pela leitura e participação, a opinião de vocês é muito importante!
    Até a próxima!

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  7. KLAUS, EM SE TRATANTDO DA SUA PESQUISA ACHEI PERTINENTE EM RELAÇÃO A HISTÓRIA MÚSICAL. É CLARO QUE NESSES PERÍODOS HOUVERAM VÁRIOS RITMOS DE ACORDO COM CADA CULTURA. MAS SE PENSARMOS BEM, EXITE INCONTESTAVELMENTE UMA POBREZA MÚSICAL EM RELAÇÃO AS LETRAS OFERECIDAS. A ARTE DA MÚSICA É TÃO RICA QUE NOS OFERECE VÁRIOS RITMOS DE ACORDO COM A NECESSIDADE EMOCIONAL, PSIQUICA E SOCIAL DE CADA DE CADA PAÍS. E FOI ATRAVÉS DOS TEMPOS, E DA NECESSIDADE DE LIBERDADE QUE MUITOS MOVIMENTOS FORAM CRESCENDO DE ACORDO COM SUAS NECESSIDADES DE SOBREVIVÊNCIA. NO CASO DO NOSSO PAÍS, ALGUNS MOVIMENTOS NO PERÍODO DA DITADURA FOI POSÍTIVO, PORQUE TINHA O OBJETIVO DE REPÚDIO CONTRA AQUELE REGIME DITATORIAL. MAS É EVIDENTE, QUE UM DOS GRANDES RESPONSÁVEIS PELA POBREZA MÚSICAL DE MELÓDIAS, É SEM DÚVIDA O CAPITALISMO EXACERBADO E EXPLORADOR. A CLASSE POBRE, ALÉM DE NÃO TER CONDIÇÕES DE EDUCAÇÃO ADEQUADA, COMPULSORIAMENTE SÃO INFLUÊNCIADAS PELAS MELÓDIAS QUE IDENTIFICA AS ATUAIS SITUAÇÕES SOCIAIS QUE ELES VIVEM. E ATRAVÉS DESSE PROCESSO CAPITALISTA, OS EMPRESÁRIOS DO ENTRETENIMENTO APROVEITAM PARA EXPLORAR A IGNORÂNCIA DA MAIORIA DA NOSSA POPULAÇÃO, COM O INTUITO DE EXPLORAR E SE PROMOVER. E NESSE CONTEXTO, E SEM UMA LEI QUE REGULARISE AS LETRAS DE CERTAS MELÓDIAS, O POVO SE DEIXA LEVAR PELOS RITMOS DE MÚSICAS SENSASIONALISTAS E APELATIVAS. MAS ISSO TUDO NÃO É CULPA DO POVO, ISSO É DE RESPONSABILIDADE DOS NOSSOS GOVERNANTES DO PASSADO, QUE QUERIAM NOSSA POPULAÇÃO POBRE APEDÊUTA, PARA PODER MASSIFICAR E CONTROLAR, NÃO PERMITINDO A LIBERDADE.
    A MÚSICA EM SI, QUANDO ELA É FEITA COM O INTUITO DE INFORMAR ALGO VIÁVEL PARA A SOCIEDADE, ELA POSSUI UMA QUALIDADE ESPECÍFICA BASEADA NA RAZÃO. MAS QUANDO ELA É FEITA LEVADA PELA EMOÇÃO ATRELADA A SENTIMENTOS DE REVOLTAS, OU DE INSATISFAÇÃO, TRAZ PREJUÍZO SOCIAL MORAL.
    O FILÓSOFO ALEMÃO ARTUR SHOPENHAUER, (1788-1860), ELE DIZIA QUE "A MÚSICA SIGNIFICA ALGO QUE CONSEGUE TRANSCENDER O SER HUMANO, PARA ESFERAS SUPERIORES EM QUE MORA O CONHECIMENTO PLENO". NA REALIDADE ELE QUIS DIZER QUE É ATRAVÉS DA MÚSICA QUE ELE CONSEGUE INTERAGIR COM OS MUNDOS SUPERIORES.
    JÁ A MÚSICA NO PENSAMENTO DO FILÓSOFO NIETZSCHE, (1840-1900), A MÚSICA DE WAGNER SIGNIFICAVA EXEMPLO DE MELÓDIAS. MAS A PARTIR DO MOMENTO QUE WAGNER COMEÇOU A COMPÔR MÚSICAS QUE FALAVAM DE SENTIMENTOS EMOCIONAIS, MORMENTE AMOR, NIETZSCHE DEIXOU DE ADMIRÁ-LO. E PARA ELE FOI A GRANDE TRAGÉDIA DA MÚSICA.
    ENTÃO, ASSIM COMO NIETZSCHE, VÁRIAS PERSONLIDADES UTILIZAVAM A MÚSICA COMO INSPIRAÇÃO PARA SEU EGO DE PODER.
    FELIZ DAQUELE QUE APRECIA UMA BOA MÚSICA SEM PENSAR NADA EM TROCA, EM SE TRATANDO DE MANIPULAÇÃO DE MASSA PARA INTERESSE FINANCEIROS.
    KAUS DESEJO MUITO SUCESSO E RECONHECIENTO DA SUA ARTE.
    UM ABRAÇO.

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  8. O COMENTÁRIO ACIMA FOI FEITO POR MIM. ATANAEL OU NATAN O IMPARCIAL.

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  9. Valeu, Natan! Ótimo comentário! Obrigado pela leitura e participação! Até a próxima!

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  10. Realmente, muito pertinente esse "apelo" a reflexão musical. Acho que a música tem influenciado muito menos do que poderia, justamente por uma falta de procura por "conteúdo" ou por falta de uma base de incentivo, e, do outro lado, mais acesso ao que está por toda parte, que generaliza e massifica a sociedade que passa a achar que temos desejos iguais, e pior ainda, que somos iguais. A música, infelizmente, tem servido de "passaporte" para não "estar excluído da sociedade", sem uma reflexão mais profunda da coisa. Há mulheres que se divertem e dançam ao som de "dar a patinha"; fico imaginando se não está nítido que ela está sendo chamada de "cachorra". Para mim, ainda é uma forma de arte; mas cadê o papel da arte de intermediar educação e valores estéticos? Longe de mim querer padronizar a arte, muito pelo contrário, sou a favor da criatividade, ousadia, inovação, manifesto e peculiaridade, porém, dentro dos limites do respeito.


    Excelente texto e excelente escrita, transmite as mensagens de uma forma clara...o design também ficou ótimo!
    Sucesso!

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  11. O blog está muito bom, Klau. Bela reflexão sobre a música nossa de cada dia.
    Abração

    www.ofalcaomaltes.blogspot.com

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  12. Parabens pela pesquisa Klaus, achei um desperdício impressionante sua usar seu texto de tanta prolixidade para dizer que a música é cultura, enquanto estigmatizarmos as mídias de culta e Nao culta viveremos nessa medíocre vida de classificação das coisas... Música, cinema, televisão, museu, teatro... Tudo é entreterimento, e esta palavra quer dizer diversão ou que te faz sentir algo!!! Música é o que te faz sentir algo, pular com frevo, sambas com samba, sorrir com los hermanos, chorar com Chico, seduzir com funk carioca, e aprender com Cazuza...

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  13. Thaís e Antônio, muito obrigado pela leitura e participação!

    "Viagem e Cotidiano", não vejo como prolixidade nem desperdício. Afirmar que a música é arte, cultra ou entretenimento é vago e superficial. Busquei fundamentações teóricas e históricas justamente para apresentar uma reflexão mais profunda sobre esse tema, onde a proposta não é impor uma opinião, mas sim levar ao leitor um ponto de vista diferente do senso comum. O texto também não se propõe a rotular o que é culto ou não-culto. O foco principal é uma análise sobre a industrialização da cultura se sobrepondo à cultura popular, principalmente em benefício dos grandes empresários do entretenimento.
    Enfim, obrigado por sua participação e colaboração para com o blog. Todas as opiniões são muito importantes e enriquecem o debate!

    Até mais!

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  14. Entendeu agora o motivo de eu insistir para você criar esse blog?
    Você se doa ao que se propõe a fazer de uma forma ímpar!
    Não imaginava que daquele embriãozinho que recebi (a primeira parte do texto, que você me enviou quando começou a escreve-lo) se transformaria em um artigo tão bem redigido e tão rico de informações!
    Se já era sua fã, agora sou também sua leitora! haha

    Beijos,

    Ami

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  15. Infelizmente, musicalmente falando, sobre o que é mostrado na mídia, brasileiro vai muito mal de música...coisas como rebolation me deixam nauseada, por outro lado sou fa de rock e musica classica. =)

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  16. Oi, estou seguindo seu blog; aguardo vc no meu www.donaanamagos.blogspot.com

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  17. Parabéns mesmo, por esse texto detalhado e bem trabalhado. Concerteza todas as personalidades indicadas no texto marcaram a história da música.
    Para mim, a música é uma arte, é uma poesia provida de harmonia, de sentimentos.
    Porém, outros vêem a música como entreterimento, muitas vezes para festas, etc.

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  18. Kikinha, Angel, Dona Ana e Niko, muito obrigado pela leitura, pelos comentários e pela participação!

    Percebo que, assim como eu, vocês reconhecem as armadinhas da indústria e a transformação da arte em produto comercializável, a ditadura do consumo e as ideologias que mascaram isso!

    Continuem participando! Gostei muito!

    Até a próxima!

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  19. Ótimo post , muito bem escrito , detalhado , apesar de ser um post grande eu li todo pois o assunto música é muito interessante , a música brasileira, anda muito mal das pernas , não se ouve nada de bom , tanto que há várias regravações , tamanha a pobreza de nossas letras . seguindo o blog , se puder faz uma visitinha no meu

    http://andyantunes.blogspot.com/

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  20. Bela e inquietante reflexão.

    É na cultura que está o infinito quadro branco a espera do pincel de nossa criatividade. Podemos não pintar nada, nada deixando como se jamais tivéssemos existido. Podemos imprimir riscos efêmeros e vazios, só pra não dizer que não pintamos nada. Ou, podemos fazer Arte, isto é, imprimir nossos sentimentos e pensamentos mais puros e individuais, deixando ali a prova eterna do poder criador da própria vida.

    Abraços.

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  21. a musica tanto uma arte como um entretenimento , é claro que hoje algumas musicas só serve para não deixar vc tirar aquele refrão tosco da cabeça , mais acredito que por ai , a gente que faz essa arte bem feita


    http://www.blogescolhas.co.cc

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  22. Parabéns pelo texto. Além da informação tratada de forma bem rica e trabalhada, ele nos faz refletir sobre esse meio de expressão tão especial que é a música.

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